Desde
pequeno, a música afro tinha espaço na família. Embalado pelos discos de vinil
de Tim Maia, Malcolm Junior cresceu e passou a ouvir Racionais Mc’s, Gabriel O
Pensador e Thaíde, que o encantavam, mas não aos outros meninos da escola. Ele
pensava que nunca seria um rapper e que Joinville não aceitaria essa música,
até que em um evento do gênero com um grupo chamado S.P.S. (Salvos Para
Servir), o rimador desacreditado se tornou capaz.
Fruto
de uma gravidez indesejada e sobrevivente de um aborto, Malcolm nunca duvidou
do amor da sua maior heroína. A infância foi pobre, muitas vezes faltou
alimento à família, sua mãe saía de casa crendo que Deus proveria e voltava
mais tarde com comida.
Ainda
adolescente virou pai. Joana e Julia nasceram e o inspiraram a continuar estudando.
Ele cursou Mecânica, que lhe renderia dinheiro, mas não satisfação
profissional. Após terminar o Ensino Médio, ingressou no curso de Pedagogia.
Foi o mau exemplo de alguns professores que o incitaram a ser melhor, a
tornar-se amigo dos alunos. “Uma professora disse que eu só tinha um defeito:
ser amigos dos alunos, mas isso pra mim é virtude”. Malcolm tem uma grande
aliada em sala de aula: a música. “Ele fazia rimas pra me ensinar português”,
conta Aline Michalack, ex-aluna do rapper. Embora tenha adotado um estilo característico,
Malcolm também usa outros gêneros musicais para dar aula e inspirá-lo no
processo criativo como Caetano Veloso, Chico Buarque, Thalles Roberto, entre
outros.
Em
2003, Malcolm e mais quatro amigos formaram o grupo de rap 5º Elemento. A
família nunca se manifestou contra a ideia e para Malcolm isso serviu de apoio.
A mãe tinha medo de que o filho abandonasse a faculdade e o emprego, mas o
elogiava a cada nova rima. Quando o CD do grupo foi lançado, ela foi a primeira
a comprar. Orgulhosa, comprou logo vinte exemplares para distribuir às amigas.
“Eu tive certeza de que ela realmente aprovava o que eu fazia”.
Malcolm,
Bull, Henrique, Yuri e Cláudio formavam o 5º Elemento. Após a saída dos últimos
três, por motivos profissionais, Malcolm e Bull juntaram-se a Rômulo, Felipe e
Raley, responsáveis pelo violão, Carron e backing vocal. O grupo continua
fazendo sucesso por Joinville. Suas músicas são pedidas e tocadas em duas das
maiores rádios da região e os shows têm sempre um ótimo público.
Malcolm nunca fez músicas falando sobre os
problemas que enfrentou, mas está compondo um rap com a sua história para
servir como incentivo para quem passa por situações parecidas. Suas rimas não
proporcionam nenhuma discussão sobre preconceito racial, para ele, essa é uma
questão resolvida. “Sofremos muito no passado, mas tratar negros como
coitadinhos pra sempre não vai resolver. Orgulho negro pra mim, não é querer
ser reparado pelo o que meu avô escravo passou, mas ter condições iguais a
todos”. Ele nunca sofreu preconceito por ser negro, mas sim pelas roupas largas
que usava. Certa vez, foi convidado para uma palestra em uma escola da cidade,
onde conversaria com os alunos. A palestra duraria quinze minutos e ao pedir um
rádio à professora ela disse que não dispunha de um. Assim, Malcolm declamou o
rap que compunha sobre educação. Quando acabou, a professora mandou buscar um
rádio e os quinze minutos de palestra se fizeram duas horas. “Voltei por duas
vezes à escola e fui convidado para ser padrinho na formatura deles”.
Em
2006, durante o Festival de Dança de Joinville nasceu o Encontro das Ruas. O
evento reúne grafiteiros, MC’s, dançarinos e amantes do hip hop. Malcolm participou
pela primeira vez em 2007 e foi campeão neste mesmo ano e também em 2008 e 2011.
“Temos quarenta e cinco segundos pra rimar contra um adversário, mas com
respeito e sem pederastia. Cada grito da plateia me faz criar uma rima melhor”.
Há
dois meses, “Juninho” despediu-se da sua maior fã. Em seis anos de luta contra
o câncer, dona Cleusa e o filho cantaram, sorriram e aproveitaram a companhia
um do outro. “A minha vontade de tê-la por perto não poderia ser maior do que o
seu bem estar”.
Malcolm
Junior tem 26 anos, está terminando o curso de Letras, sua segunda graduação e
espera voltar logo à sala de aula. A imagem de sua mãe guerreira, batalhadora
perdurará em sua memória. “Se eu for 1% do que ela for, tenho certeza que serei
um dos maiores homens que esta Terra já ouviu falar”.
Texto: Juliane Guerreiro
Foto: Arquivo pessoal.
1 comentários:
Grande repper e o melhor professor que ja tive !
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