terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

Malcolm: pai e filho, rapper e professor



Desde pequeno, a música afro tinha espaço na família. Embalado pelos discos de vinil de Tim Maia, Malcolm Junior cresceu e passou a ouvir Racionais Mc’s, Gabriel O Pensador e Thaíde, que o encantavam, mas não aos outros meninos da escola. Ele pensava que nunca seria um rapper e que Joinville não aceitaria essa música, até que em um evento do gênero com um grupo chamado S.P.S. (Salvos Para Servir), o rimador desacreditado se tornou capaz.
Fruto de uma gravidez indesejada e sobrevivente de um aborto, Malcolm nunca duvidou do amor da sua maior heroína. A infância foi pobre, muitas vezes faltou alimento à família, sua mãe saía de casa crendo que Deus proveria e voltava mais tarde com comida.
Ainda adolescente virou pai. Joana e Julia nasceram e o inspiraram a continuar estudando. Ele cursou Mecânica, que lhe renderia dinheiro, mas não satisfação profissional. Após terminar o Ensino Médio, ingressou no curso de Pedagogia. Foi o mau exemplo de alguns professores que o incitaram a ser melhor, a tornar-se amigo dos alunos. “Uma professora disse que eu só tinha um defeito: ser amigos dos alunos, mas isso pra mim é virtude”. Malcolm tem uma grande aliada em sala de aula: a música. “Ele fazia rimas pra me ensinar português”, conta Aline Michalack, ex-aluna do rapper. Embora tenha adotado um estilo característico, Malcolm também usa outros gêneros musicais para dar aula e inspirá-lo no processo criativo como Caetano Veloso, Chico Buarque, Thalles Roberto, entre outros.
Em 2003, Malcolm e mais quatro amigos formaram o grupo de rap 5º Elemento. A família nunca se manifestou contra a ideia e para Malcolm isso serviu de apoio. A mãe tinha medo de que o filho abandonasse a faculdade e o emprego, mas o elogiava a cada nova rima. Quando o CD do grupo foi lançado, ela foi a primeira a comprar. Orgulhosa, comprou logo vinte exemplares para distribuir às amigas. “Eu tive certeza de que ela realmente aprovava o que eu fazia”.  
Malcolm, Bull, Henrique, Yuri e Cláudio formavam o 5º Elemento. Após a saída dos últimos três, por motivos profissionais, Malcolm e Bull juntaram-se a Rômulo, Felipe e Raley, responsáveis pelo violão, Carron e backing vocal. O grupo continua fazendo sucesso por Joinville. Suas músicas são pedidas e tocadas em duas das maiores rádios da região e os shows têm sempre um ótimo público.
 Malcolm nunca fez músicas falando sobre os problemas que enfrentou, mas está compondo um rap com a sua história para servir como incentivo para quem passa por situações parecidas. Suas rimas não proporcionam nenhuma discussão sobre preconceito racial, para ele, essa é uma questão resolvida. “Sofremos muito no passado, mas tratar negros como coitadinhos pra sempre não vai resolver. Orgulho negro pra mim, não é querer ser reparado pelo o que meu avô escravo passou, mas ter condições iguais a todos”. Ele nunca sofreu preconceito por ser negro, mas sim pelas roupas largas que usava. Certa vez, foi convidado para uma palestra em uma escola da cidade, onde conversaria com os alunos. A palestra duraria quinze minutos e ao pedir um rádio à professora ela disse que não dispunha de um. Assim, Malcolm declamou o rap que compunha sobre educação. Quando acabou, a professora mandou buscar um rádio e os quinze minutos de palestra se fizeram duas horas. “Voltei por duas vezes à escola e fui convidado para ser padrinho na formatura deles”.
Em 2006, durante o Festival de Dança de Joinville nasceu o Encontro das Ruas. O evento reúne grafiteiros, MC’s, dançarinos e amantes do hip hop. Malcolm participou pela primeira vez em 2007 e foi campeão neste mesmo ano e também em 2008 e 2011. “Temos quarenta e cinco segundos pra rimar contra um adversário, mas com respeito e sem pederastia. Cada grito da plateia me faz criar uma rima melhor”.
Há dois meses, “Juninho” despediu-se da sua maior fã. Em seis anos de luta contra o câncer, dona Cleusa e o filho cantaram, sorriram e aproveitaram a companhia um do outro. “A minha vontade de tê-la por perto não poderia ser maior do que o seu bem estar”.
Malcolm Junior tem 26 anos, está terminando o curso de Letras, sua segunda graduação e espera voltar logo à sala de aula. A imagem de sua mãe guerreira, batalhadora perdurará em sua memória. “Se eu for 1% do que ela for, tenho certeza que serei um dos maiores homens que esta Terra já ouviu falar”.

Texto: Juliane Guerreiro
Foto: Arquivo pessoal.

domingo, 5 de fevereiro de 2012

Festa em homenagem a rainha do mar movmenenta Barra do sul









Fotos videos de Andreia Silva