quinta-feira, 13 de outubro de 2011

15 Anos sem Renato Russo

"É tão estranho, os bons morrem jovens. 
Assim parece ser quando me lembro de você, que acabou indo embora cedo demais".


Ele deixou órfã uma multidão de brasileiros que, ouvindo suas músicas, aprenderam a contestar. Ouvindo suas músicas, muitos choraram, muitos amaram, muitos gritaram... Elas inspiraram eufóricas conversas de bar e a desculpa de muitas bebedeiras. Elas foram trilha sonora de momentos inesquecíveis. Todas elas trazem recordações, ouvi-las e não pensar em um grande amor, na atual situação política e social do país, em guerras, em morte, em destruição, no amor ao próximo e em perdão, é impossível.

Ele levou as mazelas da sociedade ao microfone, levou-as aos ouvidos daqueles que estavam dispostos a escutar e cantar junto. E, dos que não estavam, elas foram enfiadas goela a baixo pelos gritos de uma geração “Coca Cola”, que repetia e ainda repete os mesmo versos em todos os cantos, e pelas camisetas com frases que ficam marcadas no pensamento.

Ele indagou: "Que país é esse?" e musicou versos que falam de amor: "ainda que eu falasse a língua dos anjos e que eu falasse a língua dos homens, sem o amor, eu nada seria".

Ele contou a história de milhões de jovens brasileiros que correm atrás de seus sonhos: "Não tinha medo o tal João de Santo Cristo...E João não conseguiu o que queria quando veio pra Brasília, com o diabo ter, ele queria era falar pro presidente pra ajudar toda essa gente que só faz...sofrer".

Ele ensinou que nós ficaremos como nossos pais no futuro e que amar ao próximo é tão ou mais importante quanto amar a nós mesmo: "É preciso amar as pessoas como se não houvesse amanhã". E que "disciplina é liberdade, compaixão é fortaleza, ter bondade é ter coragem". Que para encarar a vida e o mundo a nossa volta, isso tudo é importante. Também denunciou a apatia, o conformismo e o consumismo que adoeceram e adoecem os jovens de todas as gerações: “somos filhos da revolução, somos burgueses sem religião, nós somos o futuro da nação”.

Ele teve a sensibilidade de uma criança ao rabiscar o sol nas calçadas em dias de chuva, e coragem de cantar seus sonhos de infância em público. Em confessar que gostava de "meninos e meninas", em frente a uma sociedade machista, moralista e reacionária.

Ele celebrou a injustiça, a intolerância, a incompreensão, a violência para denunciá-las. Cantou o Hino Nacional ao ritmo de músicas de programas de auditório para escrachar o “divertimento”, a alienação do povo brasileiro feito pela TV. Cantou esses versos rodeados de margaridas, vestindo um traje épico preto. Foi a forma de oferecer a morte a todas as desigualdades existentes denunciadas com "Perfeição", na música que os fãs da Legião Urbana consideram o Hino Nacional Brasileiro. O campo de margaridas foi palco para o velório e enterro delas. 

 
Ao final, ele teve honestidade para celebrar sua própria estupidez, de ser humano que também cometeu injustiças, que também provocou desigualdades e sofrimentos, que como todos não foi perfeito. Na última estrofe um pedido pela verdade, pela liberdade e redenção dos pecados cometidos. Inspirado pelo anuncio da primavera, o desejo de amor, a oferta de amor e a esperança de um futuro perfeito que viria. Que não veio. Não para ele. Quem sabe, para nós?
Ele viveu entre a euforia e a melancolia, entre a felicidade e a tristeza, entre o amor e a solidão. Ele teve um filho, era homossexual, foi romântico assumido e, no final, foi cristão. Ele se deixou dominar pelo álcool e se abater pela AIDS, relutou ao tratamento e nos últimos dias, queria somente a presença do pai.

Esse foi Renato Manfredini Junior, Renato Russo, um dos grandes poetas da música brasileira de todos os tempos, cuja melodia e as letras das canções, aliadas ao timbre forte da voz, tiram lágrimas de ouvintes atentos.


No dia 11 de outubro de 2011 fez 15 anos que ele deixou órfã uma legião de fãs.

Hoje me pergunto o que estaria Renato Russo cantando? 
 
O que estaria ele falando frente ao momento pelo qual o mundo passa? 
 
Vendo seu passado escrito nas letras se pode ter uma ideia. Gosto de acreditar que ele continuaria gritando e mostrando ao mundo que “somos todos iguais”, “que se o mundo é mesmo parecido com o que vemos, devemos acreditar nele do nosso jeito” e fazer o melhor para torná-lo como queremos. 
 
Com certeza, ele faz muita falta...

Homenagem a Renato Russo realizada no Rock in Rio 2011, com participação da Orquestra Sinfônica Brasileira e dos ex-integrantes da Legião Urbana.



Texto e fotos: Carolina Veiga 
Video: Youtube.

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