domingo, 6 de novembro de 2011

Tum tum - tum tum... Tchibum... Glup... Glup...

  
    O coração desacelerava. Os órgãos abdominais colaram nas costelas. A pele ardia. Pernas e braços se movimentavam aleatoriamente. E o tremor surgido no incidente inicial finalmente passara.
    Enfrentar um medo traz uma sensação inesquecível. Enfrentar dois, de uma única vez, indescritível. Eu estava a três metros e meio acima dos meus. Nada é tão alto! Você pode pensar. Mas, para mim, o suficiente para as pernas tremerem como um motor ligado. A adrenalina emudecerá a voz e o coração se misturara ao estômago. Ambos se esmagavam com os dentes e a língua na disputa por espaço garganta acima.
    Seria naquele momento, ou nunca. Foi o que pensei quando resolvi subir. Depois o arrependimento era visível. A única descida seria mesmo o mergulho e eu não sei nadar. As águas do Itajaí-Açú, revoltas, pareciam famintas e lá estava eu, pronta para devorar meu medo, assim que elas saciassem seu desejo.   
O homem atrás de mim instruía a contar até três. Pedi que ele me empurrasse. Negou. A decisão seria única, minha. No três, pedi que ele apenas me lançasse à frente, não queria bater nos arbustos próximos. Levei minutos para fazer o que se leva segundos. Contei: um... dois... t... r... ê... s...Dali em diante, a palavra medo ficara no tempo verbal.
A sensação do afogamento substituiu a deixada pela primeira queda d’água, quando uma das tripulantes cortou o dedo na corda de segurança do bote. Ao incidente logo foram destinados os materiais de primeiros socorros, mas a minha insegurança nasceu ali e continuou a bordo até ser lançada três metros e meio a baixo.
Uma pequena pausa para retomar o fôlego e o capitão nos instruiu sobre as aventuras que ainda nos aguardavam naquela manhã.
Em poucos minutos nos aproximaríamos daquilo que os nativos apelidaram de “surfing no Itajaí-Açú”. O declive do rio e a força da correnteza faziam a água abraçar as pedras, escondendo-as. Formavam-se marolas que “prenderiam” o bote e, uma vez presos, seria quase impossível escapar sem virar. Segundo o capitão, seria necessária a coragem de verdadeiros marujos para transpor o desafio ou daríamos com “os burros n’água”.
Aquela era também a última chance de terminar a aventura pela metade. Poucos metros depois não teríamos mais como retornar à terra firme. Porém, a promessa da surpresa que nos aguardava do outro lado do “surfing” nos fez seguir adiante.
O entusiasmo do início da manhã retornara. Eu sentia o sol cozinhar a pele, mas não ligava. Queria aproveitar cada segundo e descobrir o que havia do outro lado.
Remamos todos com força, compassados. Parecíamos treinados àquilo. Lançamo-nos à marola e ela nos prendeu. Fomos mais fortes e não caímos, porém não conseguimos atravessá-la.

Literalmente remamos contra a maré. Voltamos ao ponto inicial para tentar novamente. Nesta segunda, nossos lugares foram trocados. Eu e a maruja com o dedo enfaixado fomos para o piso – parte interna do bote – para equilibrar o peso, enquanto os demais continuaram com os remos.
A estratégia deu certo e, apesar de um tripulante cair na água, nada grave aconteceu. Resgatado, restou-nos nosso grito de guerra. Uma saudação ao curso que levou os quatro estudantes àquela aventura.
A recompensa finalmente chegou. Olhamos para os lados e nos vimos imersos no vale do rio Itajaí-Açú. Extasiados, cercados por árvores, montanhas e água percebemos que ainda existem locais onde a natureza persiste firme e, proporciona através do cuidado do ser humano, espetáculos e emoções inesquecíveis. Naquele instante, imaginávamos como seria o Rafting à Lua cheia. O capitão Fernando Jost nos garantiu: “a luz da Lua abrilhanta ainda mais a emoção”.
Prometi voltar.










Fotos: Equipe Ibirama Rafting
Texto: Carolina Veiga

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